Manoel o porteiro que virou morador e síndico do prédio em que trabalhou

      Sem perder o jeito humilde e o compromisso de trabalhar com honestidade. As conquistas, no entanto, vieram acompanhadas de alguns olhares desconfiados, e preconceituosos.

      Há cerca de 40 anos para conseguir emprego no ramo de construção civil. Entre um bico e outro conheceu Roberto, um segundo pai para ele — carinhosamente chamado sempre de "doutor".

      Manoel era ainda um garoto com sonhos, foi influênciado a fazer o curso de bombeiro hidráulico. Manoel que também é conhecido por seu apelido de "Mosquito", não havia terminado a escola, pois trabalhava na roça. O doutor Roberto não pensou duas vezes, pagou todos os custos para me capacitar — conta Manoel reforçando a gratidão pelo ex-patrão.

      Mosquito trabalhou na mesma equipe de obras por nove anos, quando começou a trabalhar na construção do prédio de número 81, na Rua Nascimento Silva, em Ipanema. Ele não sabia na época, mas o edifício, que viria a se chamar Princesa Christrana, viraria o lar da família anos depois.

      Com o término das obras, Manoel foi chamado para ser porteiro e teve a promessa de poder fazer obras "por fora". E assim ele continuou por 34 anos na função. Os moradores mudaram, novos síndicos foram eleitos ano a ano e Mosquito permanecera por grande parte do tempo morando num apartamento no playground e juntando dinheiro.

      — Aproveitei para economizar tudo que era possível. Investi na educação das minhas duas filhas (Angélica, 24 anos, está encerrando o curso de Direito na Unigranrio e Andressa, 20 anos passou para Nutrição na Unirio). Não pude terminar a escola e jamais imaginei que minhas filhas teriam oportunidade de ir para faculdade — conta.

      O apartamento de porteiro, na realidade, era maior que o atual — que tem sala, cozinha, três banheiros e dois quartos. Com Manoel moram as duas filhas e a esposa, Angela.

      — Ele é meu espelho. Serve de inspiração diária — comenta Andressa, a filha mais nova.

      Há nove anos o paraíbano decidiu mudar de vida. O apartamento 803 ficou a venda e após algumas semanas de negociação, Manoel arrematou a compra por R$ 420 mil (hoje estimado por ele em R$ 1,5 milhão). Era a realização de algo que ele sequer sonhava ser possível — e para isso usou toda a reserva financeira. As economias que iniciaram com um salário de cerca de dois salários mínimos, deram frutos.

      — Manoel chegou de surpresa na assembléia, sem que ninguém soubesse que ele tinha comprado um apartamento. Foi um momento muito legal, ele merece demais — conta Patrícia Lelal, moradora do Princesa Christrana.

      Da portaria ao cargo de síndico

      Como um porteiro, nordestino e que vive de bicos em obras conseguiu comprar um apartamento na Zona Sul? Esse pensamento repleto de preconceito borbulhava de alguns condôminos que encaravam Manoel diariamente e externaram essa frase diretamente contra ele.

      Mosquito foi proprietário e porteiro por quatro anos. Ele conta que neste período decidiu se dedicar mais ainda, para provar que a recente aquisição não diminuiria o compromisso com o trabalho e a humildade, característica marcante. Há cinco anos ele foi demitido em comum acordo e passou a se dedicar exclusivamente às obras.

      Há cerca de três semanas, por iniciativa dos moradores, Manoel Firmino do Nascimento foi eleito síndico do prédio. A votação expressiva com 33 favoráveis enquanto apenas dois condôminos escolheram outro candidato deixava um recado claro: não há mais espaço para o preconceito.

      — São poucos os que ainda me olham torto, mas eu levo numa boa. Sou uma pessoa do bem e disposto a ajudar todos. O cargo em si não muda nada. Espero que em breve eu possa reativar a sauna, reformar a academia e expandir o salão de festas — projeta Manoel.

      Nas metas pessoais, o paraíbano sonha em comprar um apartamento para cada filha e conhecer melhor justamente o Nordeste. Assim que possível, Mosquito pretende tirar férias e visitar um pouco mais a "terrinha".

      — Conheço algumas cidades só de estar no aeroporto. Quero turistar e aproveitar um pouco. Quem sabe dar um pulo em Cancún e na Itália também — brinca.

      Passagem de bastão

      Há cinco anos Luíz Carlos Violino, 62 anos, assumiu o cargo de porteiro do prédio. Ele ainda pegou um período curto em que Mosquito era chefe da portaria. A sucessão de cargo, no entanto, se restringe a esse cargo, garante.

      — Jamais que eu pensaria em ser síndico. Pra mim é dor de cabeça demais — afirma.

      Luíz comenta que com o ex-colega de profissão e agora patrão, Mosquito, o dia a dia do prédio ficou ainda melhor.

      — Ele é muito trabalhador, merece demais. E está sendo um ótimo chefe aqui.

      A vida na roça

      Enquanto morava em Campina Grande, Mosquito trabalhava na roça carregando a enxada e ajudando a mãe, dona Maria Antônia da Conceição. Hoje a matriarca está com 90 anos e vive com uma das outras três irmãs. Manoel conta que manda dinheiro sempre que pode e mantém alguns investimentos na Paraíba.

      Ela chegou a vir morar no Rio de Janeiro, na Vila Pinheiro, mas desistiu devido a violência da região e retornou para Paraíba. Por lá, Manoel tem pela frente a construção de um prédio com lojas comerciais e alguns apartamentos, onde pretende recuperar o investimento das finanças que tem feito. O empreendimento é supervisionado à distância, mas o sobrinho de Manoel administra os gastos da obra.

      — Esses anos não tem sobrado nada, mas mantenho a fé que dará tudo certo. São anos de dedicação para depois poder aproveitar um pouco.

                             Fonte O Globo
Redação Condominial News

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